Reinaldo Lobo*
13 de dezembro de 2018. O Brasil
ganhou a Copa, as festas já cessaram, sobraram apenas algumas manifestações de
patriotas e homens de bem, vestindo camisas amarelas e pedindo uma “intervenção
militar”. Mas o país está agitado pelas incertezas de um pronunciamento militar
feito pelo general Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional,
falando sobre as eleições realizadas em outubro e novembro
Nesse mesmo dia, o general Eduardo Villas-Bôas,
o militar mais “liberal” e simpático, comandante supremo do Exército, falando
em nome das Três Armas, vem a público no horário nobre em cadeia nacional de
rádio e TV , para dizer:
“Diante do caos causado pelas
eleições fraudulentas, na qual um candidato da Ordem foi ilegalmente derrotado
por um perigoso populista, somos obrigados a atender aos apelos das forças
vivas da Nação para restaurar a democracia em sua pureza, afastando a corrupção
e a subversão”.
As “forças vivas da Nação” são --
como sempre-- os banqueiros, os empresários, as grandes corporações, o Mercado ,
uma parte da classe média e, desta vez, incluem um tanto de povo pobre
desiludido com os políticos em geral. Depois de algumas reuniões com seus
representantes aceitos pelos militares e consultas junto à Embaixada dos EUA,
pedindo o consenso de Washington, o golpe de Estado foi consumado.
O Congresso é cercado pelas tropas e
fechado. O mesmo ocorre com o Palácio do Planalto e o STF. Centenas de
deputados, ministros e funcionários do Governo somem de Brasília, alguns deles
se exilam em Miami, com receio de serem presos. Vários parlamentares da direita
religiosa, do agronegócio e da área de segurança procuram se aproximar dos
militares que conhecem ou a quem têm acesso, procurando permanecer e reforçar o
novo sistema.
Dois ministros do Supremo Tribunal Federal,
Ricardo Lewandowski e Dias Tóffoli, suspeitos de conspirarem com o PT antes e
depois das eleições, são imediatamente cassados depostos e levados em condução
coercitiva. O ex-presidente Lula é transferido da Polícia Federal, onde estava
preso sem poder concorrer desde antes das eleições malogradas. Seu destino é
ignorado, mas supõe-se que esteja sendo interrogado em algum quartel, com a
permissão do Ministério Público de Curitiba.
A ministra Carmen Lúcia,
ex-presidente do STF, é reconduzida ao cargo por sua probidade e atuação
decisiva na prisão de Lula. O juiz paranaense Sergio Moro é convidado a assumir
o Ministério da Justiça. Também é sondado, com o plano B, Alexandre de Moraes,
ministro do Supremo, também afeito às questões de polícia, repressão e
manutenção da ordem.
Os militares se dividem quanto às
primeiras medidas junto à equipe econômica, mantida pelos banqueiros e
acrescida de alguns economistas como Armínio Fraga e outros ligados ao Mercado.
Um grupo nacionalista e proto-fascista propõe a manutenção da Petrobrás, o
outro grupo, considerado mais “liberal” e americanófilo, sugere a imediata
privatização e completa entrega do pré-sal à exploração estrangeira, na linha
do que já começara com a Exxon e algumas companhias europeias.
Surpreendentemente, o capitão Jair Bolsonaro, ex-candidato à Presidência, que
se dizia nacionalista, passa a se alinhar com o grupo “liberal” e
americanófilo.
Uma censura prévia é imediatamente
imposta à imprensa escrita e televisiva, assim como se instala uma comissão de
investigação sobre o uso da internet e das redes sociais, que continuam parcialmente
ativas após o golpe de Estado militar. Greves, sobretudo gerais, nem pensar. Os
sindicatos sofreram intervenções e boa parte dos seus líderes, exceto aqueles
patronais que pediram “intervenção militar Já”, já está presa
As prisões, fugas e desaparecimentos
prosseguem em todo o território nacional, bem como os exílios em embaixadas. As
preferidas pelos políticos de esquerda são as de Portugal, França e Uruguai. Os
da direita, acusados apenas de corrupção
e não de subversão, preferem os Estados Unidos, algumas ilhas no Caribe, o
Panamá e , na Europa, as ilhas Jersey ,
Mônaco, Luxemburgo e a Suíça, claro.
O ex-presidente Temer desapareceu.
Circulam boatos de que estaria no Líbano, terra de origem de sua família, ou
então, o que é mais provável, estaria na garagem do Palácio do Planalto ou no
Jaburu, negociando -- ao lado do ministro Eliseu Padilha, do deputado Carlos
Marun e de sua Marcela--, uma possível composição com a Junta Militar para ter
um ministério e salvar seu patrimônio de um possível Inquérito Policial Militar
(IPM).
Esse cenário futuro próximo descrito
acima é distópico, isto é, o contrário de uma utopia. Sugere uma ditadura
sinistra tomando conta em breve do Brasil. O pior é que esse pesadelo é, neste
momento, o sonho de muita gente.
O que essas pessoas mal informadas
não sabem é que isso nos atiraria na lata do lixo do mundo e da história,
perderíamos todo o prestígio internacional, seres humanos seriam injustamente
detidos e humilhados nesse processo, quando não mortos. As agências de Direitos
Humanos do mundo todo, a começar pela ONU, condenariam o País e o levariam aos
Tribunais internacionais.
Do ponto de vista econômico, haveria
uma grande retração, diversos países parariam, no primeiro momento, de comprar
produtos brasileiros e se aprofundaria a crise recessiva em que estamos
mergulhados. Como o Mercado iria esperar as declarações “liberais” dos
militares e de seus servidores para se recuperar, a médio prazo talvez os
negócios se ativassem. Mas isso não significaria, como dantes se esperava, uma
recuperação do crescimento nem a retomada plena dos negócios em escala mundial
e multilateral.
O Brasil iria depender dos acordos
bilaterais com o governo Trump, que, certamente, seria dos primeiros a
reconhecer a Junta Militar. O gol contra nacional nos tornaria uma pátria
apenas de chuteiras e um ponto ficaria acertado e assente: o País assumiria
francamente o seu papel de República das Bananas.