Reinaldo
Lobo
O
Nazismo foi uma política de destruição para reconstruir um mundo pior. Uma
revolução regressiva, destinada a voltar para trás, levando a civilização, se
desse certo, até a uma forma de barbárie. Quem viu o excelente documentário
“Arquitetura da Destruição” sabe do que falo. O objetivo final do titio Adolf e
de seus amigos era acabar com a modernidade, suas obras de arte, sua cultura,
seus costumes, seu iluminismo e as ideias de democracia e progresso.
Os nazistas chegaram a decretar o fim do
vinco das calças masculinas, porque representava um costume do passado burguês da
Alemanha, não condizente com um homem da “raça superior”, um guerreiro
inquieto, não acomodado, capaz das maiores conquistas e vitórias—como mostrou
Joachin Fest na sua biografia de Hitler. Destruíram até o cinema alemão no seu
auge como arte com o expressionismo, transformando-o em mero veículo de
propaganda política do regime. Perseguiram artistas e intelectuais extraordinários
como Albert Einstein e Thomas Mann, que brilharam na espantosa “era de ouro” da
culta e conturbada República de Weimar (1918-1933).
Em apenas alguns meses após assumir o
poder, em 1933, o ditador conseguiu transformar em refugiados, presos ou
exilados gente como Einstein, o escritor Mann, o teatrólogo Bertold Brecht, o
arquiteto Walter Gropius, o filósofo Erwin Panofsky, o pintor Wassily
Kandinsky, o historiador da Filosofia Werner Jaeger, o artista Bruno Walter, o
psicólogo Wolfgang Köhler, o teólogo Paul Tilich e o filósofo Ernest Cassirer.
Para se ter uma ideia do que foi a
República de Weimar, fruto de uma revolução democrática na Alemanha conturbada
após a Primeira Guerra Mundial, basta lembrar do que disse dela o sociólogo
Karl Mannheim, um dos grandes sobreviventes da destruição cultural nazi: “Os
anos futuros olharão para trás para Weimar como uma nova era de Péricles”.
A comparação com o auge da cultura grega
antiga não foi exagerada. A curta República de Weimar produziu algo na cultura
que se tornou uma lenda. O brilhante historiador Peter Gay , que escreveu “A
Cultura de Weimar”(1968), comentou sobre sua esplêndida e breve trajetória:
“Quando
pensamos em Weimar, pensamos em modernismo na arte, literatura e pensamento;
pensamos em rebelião, dos filhos contra os pais, dos dadaístas contra a arte,
berlinenses contra os musculosos filisteus, libertinos contra moralistas
retrógrados; pensamos em “A Ópera dos Três Vinténs”, “O Gabinete do Dr.
Caligari”, “A Montanha Mágica”, Bauhaus, Marlene Dietrich. E pensamos, acima de
tudo, nos exilados que exportaram a cultura de Weimar para todo o mundo”.
Se dependesse dos nazistas não existiria
a “cultura de Weimar”, que leva o nome da cidade onde houve uma Assembleia
Constituinte da República Alemã, em 1918. Eles cuidaram de arrasar com tudo o
que puderam. Os exilados é que a salvaram.
O
nazismo odeia a ciência e a cultura, que desmente seus mitos megalomaníacos de
poder e ordem. Esse passeio por Weimar foi para lembrar o que os nazis, e agora
os neonazis, querem destruir: a cultura civilizada moderna. Parecem desejar a
volta a um “estado natural” onde todos guerreiam contra todos, como na
mitologia hobbesiana.
É preciso assinalar o risco que corremos
no Brasil – e no mundo atual—com a aparição de governos como o de Bolsonaro,
inimigo da ciência e da cultura, e similares nos EUA, na Inglaterra, na Itália,
na Polônia, na Hungria, na Índia e em outros lugares da Terra.
Foi
necessária uma guerra, a Segunda Mundial, para barrar o nazifascismo e a praga
corrosiva que ameaçava a vida cultural e a civilização.
Hoje, é possível que a pandemia do novo
Coronavírus e a crise econômica solapem esses governos conservadores, que
reagiram à globalização com um pseudo nacionalismo e a retração das respectivas
sociedades a uma posição de desamparo diante de um poder autoritário.
A resposta popular pode vir por meio das
urnas ainda este ano nos EUA, país que ajudou a derrotar o nazifascismo, mas
hoje se encontra sob o governo proto-fascista de Trump.
Muitas pessoas talvez não se deem conta da
atualidade do nazismo em pleno século XXI, mas na verdade ele nunca foi embora
completamente. Existia em estado larvar nas mentes de todos nós e no fascínio
que exerce com sua estética grandiloquente e o culto do poder.
Os
chamados “supremacistas brancos”, na Europa e nos EUA, espelham o medo das
sociedades capitalistas e, até há pouco tempo atrás, colonialistas, de perderem
o domínio sobre a maioria do mundo da qual dependem, que, queiram ou não, são
os trabalhadores e pobres da Terra.
Muito bom, gostei...
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