quinta-feira, 23 de julho de 2020

ATUALIDADE DO NAZISMO


  
                                      
                                                  Reinaldo Lobo

      O Nazismo foi uma política de destruição para reconstruir um mundo pior. Uma revolução regressiva, destinada a voltar para trás, levando a civilização, se desse certo, até a uma forma de barbárie. Quem viu o excelente documentário “Arquitetura da Destruição” sabe do que falo. O objetivo final do titio Adolf e de seus amigos era acabar com a modernidade, suas obras de arte, sua cultura, seus costumes, seu iluminismo e as ideias de democracia e progresso.
       Os nazistas chegaram a decretar o fim do vinco das calças masculinas, porque representava um costume do passado burguês da Alemanha, não condizente com um homem da “raça superior”, um guerreiro inquieto, não acomodado, capaz das maiores conquistas e vitórias—como mostrou Joachin Fest na sua biografia de Hitler. Destruíram até o cinema alemão no seu auge como arte com o expressionismo, transformando-o em mero veículo de propaganda política do regime. Perseguiram artistas e intelectuais extraordinários como Albert Einstein e Thomas Mann, que brilharam na espantosa “era de ouro” da culta e conturbada República de Weimar (1918-1933).
     Em apenas alguns meses após assumir o poder, em 1933, o ditador conseguiu transformar em refugiados, presos ou exilados gente como Einstein, o escritor Mann, o teatrólogo Bertold Brecht, o arquiteto Walter Gropius, o filósofo Erwin Panofsky, o pintor Wassily Kandinsky, o historiador da Filosofia Werner Jaeger, o artista Bruno Walter, o psicólogo Wolfgang Köhler, o teólogo Paul Tilich e o filósofo Ernest Cassirer.
     Para se ter uma ideia do que foi a República de Weimar, fruto de uma revolução democrática na Alemanha conturbada após a Primeira Guerra Mundial, basta lembrar do que disse dela o sociólogo Karl Mannheim, um dos grandes sobreviventes da destruição cultural nazi: “Os anos futuros olharão para trás para Weimar como uma nova era de Péricles”. 
     A comparação com o auge da cultura grega antiga não foi exagerada. A curta República de Weimar produziu algo na cultura que se tornou uma lenda. O brilhante historiador Peter Gay , que escreveu “A Cultura de Weimar”(1968), comentou sobre sua esplêndida e breve trajetória:
   “Quando pensamos em Weimar, pensamos em modernismo na arte, literatura e pensamento; pensamos em rebelião, dos filhos contra os pais, dos dadaístas contra a arte, berlinenses contra os musculosos filisteus, libertinos contra moralistas retrógrados; pensamos em “A Ópera dos Três Vinténs”, “O Gabinete do Dr. Caligari”, “A Montanha Mágica”, Bauhaus, Marlene Dietrich. E pensamos, acima de tudo, nos exilados que exportaram a cultura de Weimar para todo o mundo”.
      Se dependesse dos nazistas não existiria a “cultura de Weimar”, que leva o nome da cidade onde houve uma Assembleia Constituinte da República Alemã, em 1918. Eles cuidaram de arrasar com tudo o que puderam. Os exilados é que a salvaram.
     O nazismo odeia a ciência e a cultura, que desmente seus mitos megalomaníacos de poder e ordem. Esse passeio por Weimar foi para lembrar o que os nazis, e agora os neonazis, querem destruir: a cultura civilizada moderna. Parecem desejar a volta a um “estado natural” onde todos guerreiam contra todos, como na mitologia hobbesiana.
       É preciso assinalar o risco que corremos no Brasil – e no mundo atual—com a aparição de governos como o de Bolsonaro, inimigo da ciência e da cultura, e similares nos EUA, na Inglaterra, na Itália, na Polônia, na Hungria, na Índia e em outros lugares da Terra.
      Foi necessária uma guerra, a Segunda Mundial, para barrar o nazifascismo e a praga corrosiva que ameaçava a vida cultural e a civilização.
     Hoje, é possível que a pandemia do novo Coronavírus e a crise econômica solapem esses governos conservadores, que reagiram à globalização com um pseudo nacionalismo e a retração das respectivas sociedades a uma posição de desamparo diante de um poder autoritário. 
    A resposta popular pode vir por meio das urnas ainda este ano nos EUA, país que ajudou a derrotar o nazifascismo, mas hoje se encontra sob o governo proto-fascista de Trump.
    Muitas pessoas talvez não se deem conta da atualidade do nazismo em pleno século XXI, mas na verdade ele nunca foi embora completamente. Existia em estado larvar nas mentes de todos nós e no fascínio que exerce com sua estética grandiloquente e o culto do poder.
    Os chamados “supremacistas brancos”, na Europa e nos EUA, espelham o medo das sociedades capitalistas e, até há pouco tempo atrás, colonialistas, de perderem o domínio sobre a maioria do mundo da qual dependem, que, queiram ou não, são os trabalhadores e pobres da Terra.

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