Reinaldo Lobo*
Todos sabemos no mundo moderno que há uma
influência dos nossos desejos sobre as nossas crenças. Isso é do conhecimento
geral. A natureza dessa influência é, porém, muito mal interpretada. O costume
é supor que o conjunto das nossas crenças provém de alguma base racional e dos
fatos. O desejo seria apenas uma força perturbadora ocasional. Algo que só
atrapalharia a lógica do senso comum. É justamente o contrário que mais se
aproxima da verdade.
A grande maioria das crenças pelas quais
somos apoiados em nossa vida diária é apenas projeção do desejo, corrigida num
ponto ou noutro pelo duro choque dos fatos. Desde pelo menos o surgimento da
psicanálise, com Freud , descobrimos que o ser humano é essencialmente
sonhador. Desperta , às vezes, em algum momento por algum fator especialmente
penetrante do mundo exterior, mas logo a subjetividade humana retorna à feliz
sonolência do devaneio e da imaginação. Nossos sonhos à noite são, em grande
parte, a expressão pictográfica de nossos desejos em busca de satisfação. O
mesmo vale para nossos sonhos acordados. Podem ser incluídos nesses sonhos
acordados o que chamamos de crenças.
O ser humano deseja acreditar. A crença
dá segurança e nos tira do desamparo diante da vida natural, da morte, da
presença do outro, da brutalidade e das incertezas das relações sociais. Não só
a psicanálise pensou sobre isso, mas também inúmeros filósofos, tanto céticos
quanto gnósticos, desde a Antiguidade.
A
publicidade e a política descobriram, por sua vez, o que a psicanálise e os
filósofos revelaram tão bem. Passaram a manipular os desejos humanos a fim de
provocar adesão às crenças que querem promover.
Um exemplo banal é a estratégia das
agências publicitárias para criar e provocar desejos no consumidor. E induzi-lo
a comprar sem que tome consciência plena do seu ato. A propaganda de sabonetes
parte do conhecimento de que as mulheres desejam inconscientemente ser
acariciadas na sua pele e que isso faz parte da sexualidade feminina. Então,
colocam-nas nuas no quarto ou debaixo de um chuveiro passando suave e
repetidamente um produto para a maciez da pele, num movimento masturbatório semelhante
a uma preliminar de um ato sexual. Não vendem limpeza, mas uma crença de que
aquilo é bom e gostoso.
A propaganda de manipulação política
funciona também assim. É menos delicada e sutil, propõe a salvação nacional,
inventa líderes, destrói outros, nos faz
acreditar que estamos em pleno caminho para a realização dos nossos desejos
mais idealizados ou, ao menos, na rota de nos livrarmos das crises sociais e
econômicas, do sufoco, enfim.
Goebbels, o marqueteiro do nazismo, ainda
que não gostemos da sua figura repugnante ou de sua ideologia, foi um gênio na
arte de manipular a informação para
obter crenças sólidas e até fanáticas. Assim como Hitler na ação política, ele
soube captar o medo dos alemães em relação ao futuro, após a Primeira Guerra e
a crise de 1929, e projetou uma imagem de uma nova sociedade brilhante e bem sucedida, formada por uma
raça de seres indestrutíveis.
No Brasil atual, os marqueteiros
políticos, os ativistas pagos das redes sociais, os políticos da oposição ao
governo atual,alguns jovens extremistas de
ultra-esquerda, a imprensa comprometida com as forças conservadoras, estão
fazendo exatamente o contrário do que Goebbels fazia. Procuram induzir, há
muitos meses, uma crença na opinião pública que possa apagar qualquer brilho,
êxito ou realização positiva dos governos Lula e Dilma. Para isso, pintam
primeiro um quadro de "terra arrasada" e de catástrofe, para depois
oferecerem a salvação na forma de um novo presidente não tão brilhante nem
mesmo muito confiável, mas "menos ruim" e passível de ser engolido pelo
eleitorado.
Querem gerar , antes , a crença de que
estamos à beira do abismo para oferecer depois a saída do abismo. Na verdade,
estão inventando uma crise muito maior do que qualquer possível crise real.
"Não vai ter Copa", "Caos
Aéreo", "Fuga de turistas", "Desemprego", "Caos
Econômico", "Incompetência da presidente", "Tropeções na forma de discursar",
"Inflação galopante", "Apagão da Diplomacia" -- são estes slogans e
estas manchetes que procuram inventar. Quase todas desmentidas pelos
fatos, fica claro que repousam apenas nos desejos de seus autores.
Como a era Lula e Dilma produziu pautas
muito positivas junto aos trabalhadores e ao povo pobre, agora querem passar a
idéia terrorista de uma crise inexorável que vai corroer os salários, a
estabilidade , deixar todos na rua e minar a estabilidade econômica..
Como admitiu a presidente em entrevista
recente, mesmo que existam problemas e que os rumos do crescimento precisem ser
controlados e até corrigidos, o que a campanha publicitária terrorista procura
fazer é exatamente abalar a crença de um futuro melhor e empurrar a opinião
pública por meio do medo. Com isso, espera gerar o desejo de mudança e a
crença de que a oposição neoliberal no
poder seria a única saída.
A última novidade é a distribuição na
entrada e saída em massa no metrô, pelo menos no de São Paulo, de milhares de
adesivos onde está escrito: "Fora Dilma!" É por onde passam milhares
de pessoas que trabalham, justamente os eleitores de Lula e de Dilma.
É o que chamamos de campanha negativa.
Baseada no ódio, na sugestão de frustração e, em conseqüência, no desejo de
derrubar o governo. Não se trata de iniciativa dos garotos tresloucados do Rio
nem do Movimento Passe Livre, que não deveriam ser presos, pois são apenas
"massa de manobra" de forças mais poderosas. Essas ações não
constituem gestos espontâneos de protesto democrático, como as vaias da classe
média ressentida ou o início do movimento de junho de 2013. Nada disso. São
iniciativas políticas e publicitárias com direção certa, destinadas a insuflar
o desgosto, o medo e uma raiva
programada.
Repetidas mil vezes pelo bombardeio da
mídia conservadora e os comitês de campanha oposicionistas, essas ações podem
gerar um desejo de mudança artificial, pelo menos até que a militância a favor
das reformas políticas e sociais propostas pela presidente, a primeira mulher a
governar o País , possa começar, enfim, a campanha "Fica, Dilma!"
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