segunda-feira, 1 de julho de 2013

REVOLUÇÃO?

O que é uma revolução?
O senso comum,a mídia,a Igreja,o Departamento de Estado dos EUA, a direita brasileira costumam confundir,muitas vezes maliciosamente, revolução com violência.Houve violência ao longo da história em revoluções,sobretudo na fase de implantação institucional do novo regime.Mas não tem que ser necessariamente assim.
Revolução não significa derramamento de sangue nem guerra civil.Tampouco é revolucionário apenas o sujeito que pega em armas,ainda que não se deva censurar aqueles que, por circunstâncias históricas, foram levados a empunhar armas contra regimes violentos e opressivos.Alguns participaram de revoltas, rebeliões, guerrilhas, levantes, mas não necessariamente de verdadeiras revoluções. Há violência em golpes de Estado e contra-revoluções e, obviamente, nem por isso constituem revoluções.
Castoriadis definiu revolução como a transformação de certas instituições centrais da sociedade pela atividade da própria sociedade; ou seja, "a autotransformação explícita da sociedade, condensada num período breve". Lembra ele: a revolução de Clístenes em Atenas -- da qual, em certo sentido, continuamos sendo os herdeiros-- não foi violenta.Outro exemplo:se o rei da Inglaterra tivesse sido mais bem aconselhado, a Revolução Americana não teria tido nenhuma dimensão militar ou violenta;nem por isso deixaria de ser uma revolução.A revolução de fevereiro de 1917 na Rússia também não foi violenta: no segundo ou terceiro dia, os regimentos do Czar se recusaram a atirar contra a multidão e o antigo regime caiu.
Revolução expressa "a entrada da parte essencial da comunidade numa fase de atividade política". Mas não se reduz a isso. É necessária uma autotransformação institucional profunda da sociedade. O que está acontecendo no Brasil atual não é uma revolução, mas poderia evoluir para essa direção. A assim chamada crise de representação política, a distância brutal entre os "representantes do povo" e o próprio povo, levou todos os setores da sociedade, ricos e pobres, civis e militares, empresas e trabalhadores a uma descrença e falta de confiança na chamada classe política, que representa interesses próprios ou de outros particulares e não os de quem os elegeu. O fetichismo da representação política, como dizia o sociólogo francês Pierre Bourdieu, é simbolicamente semelhantes ao fetichismo da mercadoria : quem a produziu não se reconhece mais nela e se vê obrigado a se submeter, reverenciar e desejar possuí-la. O desprezo pelos partidos revelou-se em recente pesquisa: todos os políticos partidários caíram de popularidade, menos aqueles que vieram de fora do sistema, até mesmo os sem partido, como o juiz Barbosa e Marina Silva. Isso não deve ser repudiado como um sinal de fascismo, ainda que exista o perigo da anti-política tendente ao extremismo de direita. O que está em questão na periferia do capitalismo, mas também nos seus países centrais, é justamente esse fetiche que deu origem a uma democracia artificial, apartada da realidade. O anseio é de participação, não da farsa pseudodemocrática, mas das decisões efetivas sobre os recursos, sobre a vida institucional e coletiva. Os revoltosos brasileiros, os que marcham em torno de slogans, às vezes, contraditórios, querem o fim de uma "democracia de araque" e o início de um regime de participação debaixo para cima, direta e coletiva.

3 comentários:

  1. Aceitando que nem toda violência é revolucionária, não me sinto convicta de que possa haver revolução sem violência. Isso me incomoda muito porque meu pacifismo pessoal e subjetivo não tolera essa idéia de que não seja a Razão e a Imaginação os grandes instrumentos (ou, se quiserem, as armas) da evoluçao .Por outro lado, quando parecemos todos unidos na identidade de não nos sentirmos representados nessa farsa pseudodemocrática, não vejo ainda que estejamos todos querendo um regime de participação debaixo para cima. São tantos os comentários veiculados neste meio em que falamos que clamam por atuantes que façam aquilo que não querem (ou são incapazes) de fazer, mas que querem ver feito....Em que, e de que maneira, teremos de atuar para que um laivo de imaginário possa descompor esse aparente facilitário fetichismo da representação política? Ainda que eu esteja levantando essas questões, já acho mto promissor o fato de que vc lembra mto bem que é o fetichismo político que dá origem à democracia artificial e não o reverso.

    ResponderExcluir
  2. Existe, de fato, uma servidão voluntária que faz resistir à democracia. Não atribuiria isto a uma suposta "natureza humana", mas antes a períodos históricos específicos nos quais as pessoas se alienam da cidadania e dos próprios interesses. Como agir para romper o fetichismo da representação política? Não sei. Mas acho que, aqui no Brasil, uma verdadeira reforma política ajudaria.

    ResponderExcluir